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O companheiro Vicente Sales (Ferroviário e Sindicalista) chega aos 90 anos de vida com o mesmo vigor e coragem de sempre. Foi com esse espírito de luta que ele fundou o PT - Partido dos Trabalhadores em Sobral. Eram tempos difíceis e obscuros mas ele ergueu a primeira bandeira política em defesa da sofrida classe trabalhadora sobralense. Parabéns e vida longa!!!
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O processo de redemocratização do Brasil se torna intenso na Década de 80 e espalha suas ações por todo o país. Cada região assimilou a nova realidade politica de acordo com as suas peculiaridades.
No Nordeste Brasileiro o Governo Militar estava fortemente representado na figura dos antigos “Coronéis” que ainda decidiam o futuro político das microrregiões onde atuavam.
O bipartidarismo era um forte instrumento de controle das decisões políticas de forma que favorecia demasiadamente a “Elite Política” tanto da situação como da oposição, frustrando de certa forma o avanço de posições politicas mais radicais.
Com a abertura política através do pluripartidarismo a atuação de siglas com ideais socialistas e comunistas não era permitida ainda e a clandestinidade era a forma de sobrevivência de grupos políticos com formação ideologicamente mais intensa e muitos destes grupos buscavam abrigo em legendas de oposição regularizadas pela nova legislação eleitoral.
Dentro deste contexto histórico enquadraremos aqui o surgimento do PT - Partido dos Trabalhadores em Sobral, no Ceará que teve como 1º Presidente Vicente Sales, Ferroviário e Sindicalista.
Em 1982 o PT de Sobral lança a sua primeira chapa para disputar as eleições municipais sendo formada por José Valmir Linhares como Prefeito e José Aquino de Albuquerque como Vice-Prefeito e José Maia Silva como Vereador.
Nesse mesmo ano Clodoveu Arruda é candidato não eleito a Vereador pela Coligação PMDB/PDC, mas apoiado pela militância do PCdoB - Partido Comunista do Brasil que se mantinha na clandestinidade.
Sonia Oliveira também é candidata não eleita a Vereadora pela mesma legenda, mas apoiada pela militância do PRC - Partido da Revolução Comunista que também se mantinha na clandestinidade.
Uma vez estruturado e legalizado dentro do município o partido partiu para aumentar o seu quadro de filiados, abrindo espaço para o ingresso de várias tendências ideológicas que atuavam nos movimentos estudantis, sindicais, eclesiais e populares.
O primeiro grupo ou tendência ideológica que ingressou no PT de Sobral era formada por militantes do clandestino PRC que tinha base em Fortaleza e era liderado por Maria Luiza e Rosa Fonseca.
A célula sobralense do PRC se dedicava basicamente a formação intelectual e ideológica e ocupava-se principalmente ao estudo de Filosofia Política, Ciência Política e Artes de Guerrilha.
A base de formação teórica era formada por Marx, Engels, Politzer, Guevara e outros doutrinadores. Grande parte destas obras circulava clandestinamente.
Sob a orientação de Osmar Júnior e Armando Fonteles que eram sobralenses residentes em Fortaleza o grupo de Sobral formado por Rivana Rocha, Welton Braga, Kildare Brasil, Expedito Ponte, Belinha Parente, Elói Neves, Stenio Gameleira e outros dão os primeiros passos para consolidar a atuação do partido, através de uma campanha de filiação.
A campanha foi um sucesso e um segundo grupo se destacou dentro do novo quadro de filiados nas figuras de Osvaldo Aguiar, Bené Fernandes, Celisvaldo Pereira, Pedro Fernandes, Odélia Martins, Ana Barros, Emídio Silva, Paulo Flor, Assis Carlos, Audino Lopes e outros.
Eram células originárias do MEB - Movimento Eclesial de Base e Lideranças Sindicais, Estudantis, Camponesas e Populares. Estes grupos originavam-se do engajamento nas lutas pela organização, representação, conscientização e defesa dos trabalhadores rurais e urbanos, além dos estudantes das escolas e universidades de Sobral.
O quadro de militantes cresceu consideravelmente e junto a isso surgiram as primeiras divergências de natureza ideológica dentro do partido.
Em 1988 o PT de Sobral lança a sua segunda chapa para disputar as eleições municipais sendo formada por Pedro Fernandes como Prefeito, Rivana Rocha como Vice-Prefeita e Bené Fernandes, Belinha Parente, Osvaldo Aguiar, Audino Lopes, Celisvaldo Pereira, Kildare Brasil e outros como Vereadores.
Todas as tendências ideológicas tiveram a oportunidade de lançar seus candidatos e o PT soma quase 2 mil votos, tornando-se uma legenda forte e competitiva, mesmo sem eleger ninguém.
É bom saber que foi nessa disputa que Edilson Aragão foi eleito o 1º Vereador do PSB de Sobral na Coligação PCB/PDT/PSB.
O avanço espantoso dos partidos de esquerda em Sobral faz com que o PT de Sobral respirasse novos ares e passasse a ser objeto de cobiça de lideranças políticas de centro-direita e centro-esquerda pertencentes a classes sociais mais elevadas, dentre eles empresários e profissionais liberais renomados e militantes de outros partidos que migraram para a sigla emergente. Dentre eles se destacaram Clodoveu Arruda, Edilson Aragão e outros.
Em 1992 o PT de Sobral lança a sua terceira chapa para disputar as eleições municipais na Coligação PT/PSB/PCdoB, sendo formada por Edilson Aragão como Prefeito, Iweltman Mendes como Vice-Prefeito. Esta disputa elegeu Clodoveu Arruda como o 1º Vereador do PT de Sobral.
Pode se considerar que essa foi a “Campanha de Ouro” do partido que conquistou mais de 7 mil votos, abrindo caminho para futuras alianças e um poder maior de barganha política.
Nesse mesmo ano a citada coligação de partidos de esquerda elegeu também Luciano Linhares para o 1º mandato como o 2º Vereador do PSB de Sobral.
Com novos filiados e uma nova realidade política a militância histórica e os grupos ideologicamente mais radicais que atuavam dentro do partido se afastam num protesto silencioso e terminam por dar espaço a militância de centro-esquerda que sinalizava interesse em fazer alianças com partidos de centro-direita e o que já era previsto aconteceu de fato.
Em 1996 o PT de Sobral entra na disputa eleitoral elegendo Edilson Aragão como Vice-Prefeito de Sobral numa coligação envolvendo o PSDB/PT/PSB/PTB que elegeu Cid Gomes como Prefeito. Nesta disputa eleitoral o PT não elegeu nenhum candidato a Vereador.
É bom saber que esta “aliança” foi fruto de intensa divergência envolvendo o nome indicado para disputar o cargo de Vice-Prefeito da coligação proposta. Depois de intenso “vai-e-vem” saiu a indicação final que agradou todas as siglas envolvidas na disputa. O PT teve que abrir mão da sua indicação inicial para propor um novo nome.
Em 2000 o PT entra na disputa eleitoral e repete a fórmula das eleições de 1996 elegendo novamente Edilson Aragão como Vice-Prefeito de Sobral e Emídio Silva como Vereador na coligação envolvendo diversos partidos como o PT/PTB/PSB/PSDB que novamente elegeu Cid Gomes como Prefeito.
O partido retoma novamente o fôlego com a eleição de um parlamentar oriundo do movimento religioso e do meio popular. O PT retorna as suas raízes históricas e as mantém fortalecidas por certo tempo até que disputas internas alimentadas pelo jogo de interesses fizeram com que a unidade política e partidária descesse pelo “ralo” da incoerência.
Em 2004 o PT entra na disputa eleitoral elegendo desta vez Clodoveu Arruda como Vice-Prefeito de Sobral e José Vytal como Vereador na Coligação envolvendo vários partidos como o PP/PT/PTB/PMDB/PL/PPS/PV/PCdoB que também elegeu Leônidas Cristino como Prefeito.
Politicamente estável o partido padeceu por “excesso de confiança” ao apostar na candidatura de militantes devidamente filiados, porém com formação ideológica e discurso político de centro-esquerda. Bons de discurso e de voto tomaram a liderança e a vaga legislativa do partido, deixando o restante da militância a “reboque” das decisões políticas maiores.
Em 2008 o PT entra na disputa eleitoral e repete a chapa anterior, reelegendo Clodoveu Arruda como Vice-Prefeito na primeira grande Coligação envolvendo partidos como o PCdoB/PDT/PMDB/PV/DEM/PT/PSB/PSDB/PP/PHS/PRB que reelegeu também Leônidas Cristino como Prefeito de Sobral. Nesta disputa o PT não elegeu nenhum Vereador.
Sem muitas delongas podemos dizer que foi nesta época que a militância do partido ”viajava na maionese” por conta da falta de acompanhamento, assistência e orientação política do alto escalão do partido dentro município que contribuiu fortemente para o fracasso da disputa para uma vaga no legislativo municipal. Vale salientar que Clodoveu Arruda assumiu a vaga de Prefeito de Sobral no ano de 2011 em virtude do afastamento de Leônidas Cristino que assumiu o cargo de Ministro dos Portos do Governo Dilma.
Em 2012 o PT entra na disputa eleitoral elegendo Clodoveu Arruda como Prefeito de Sobral, além de Christiane Coelho e Emídio Silva como Vereadores na grande Coligação que envolveu o PRB/PP/PDT/PT/PTB/PMDB/PSC/PPS/PTC/PSB/PPL/PSD/PCdoB que também elegeu Carlos Hilton como Vice-Prefeito.
Na verdade foi nesta eleição que o PT elegeu 2 vereadores sem estabelecer nenhuma aliança proporcional. O partido acertou com a indicação de nomes expressivos, mantendo um número ideal de candidaturas que foram capazes de atingir o coeficiente eleitoral necessário para conquistar as vagas na Câmara Municipal.
A “fórmula perfeita” deste pleito serviu de alerta para a classe política dominante que passou a controlar o partido a “rédeas curtas”.
Em 2016 o PT novamente entra na disputa política elegendo Christiane Coelho como Vice-Prefeita de Sobral n a maior coligação partidária já feita em Sobral envolvendo os partidos PP/PDT/PT/PPS/DEM/PRTB/PHS/PSB/PV/PPC/PSD/PCdoB/PROS/PSC/PTB que elegeu também Ivo Gomes como Prefeito. Nesta disputa o PT não elegeu nenhum Vereador.
Analisando a conjuntura dessa disputa nota-se que o PT não fez alianças proporcionais, pois ainda não tinha aprendido com as experiências passadas que envolveram nomes expressivos, coligações viáveis, número de candidaturas e logicamente o coeficiente eleitoral necessário para conquistar uma vaga no parlamento municipal de forma que mais uma vez cometeu erros que resultaram em prejuízos políticos para o partido.
O certo é que a conjuntura política nacional na época destes fatos serviu apenas para favorecer os projetos políticos e econômicos da militância de centro-direita e centro-esquerda oportunista e carreirista que gravitava em torno do sistema político onde o PT era a “Estrela Central”.
Torna-se mister afirmar que apenas uma pequena parte da militância petista atual teve que se contentar com alguns cargos comissionados e/ou terceirizados obscurecidos pela sua insignificante representação política.
Ora numa análise bem realista e sincera a conjuntura política que se manifesta até então em Sobral, serviu de inspiração para construir o modelo de governabilidade que se estabeleceu também no Ceará.
Stenio Gameleira